CIDADES EM TRANSE:
Patrimônios, Conflitos e Contranarrativas urbanas
GALERIA DE ARTES
O dia 23 de abril é marcado, no Brasil, pelas festividades tradicionais que se manifestam no sincretismo entre São Jorge e Ogum, entre o catolicismo popular e as religiosidades de matriz africana e afro-brasileiras. Um encontro exemplar entre elementos culturais aparentemente distintos, entre santo e orixá, entre procissão e festa. Na cidade de Bagé, terra de São Sebastião, a Procissão de São Jorge, também conhecida como Festa de Ogum, é organizada pela Associação Espiritualista de Umbanda e todo ano reúne uma multidão de fiéis, entre umbandistas, batuqueiros, católicos e autoridades religiosas locais como padres e bispos. A caminhada ocorre na Avenida Sete de Setembro, num trajeto que começa na Praça da Matriz e vai até a Praça de Esportes, totalizando oito quadras. É considerada uma das mais importantes manifestações culturais do patrimônio imaterial da cidade e, sem dúvida, um momento de grande visibilidade, protagonismo e integração das comunidades de terreiros com a população geral do município. O presente vídeo documental tem a intenção de mostrar as formas expressivas da devoção ao cavaleiro valente, tais como gestos, ritmos, sensações, cores, cantos, hinos, depoimentos e estados emocionais presentes ao longo da performance dos participantes. O trabalho foi realizado em conjunto com estudantes do IFSul Câmpus Bagé, integrantes dos projetos de ensino “Narradores de Bagé” e “Cinema, Educação e Direitos Humanos”, coordenados pelo prof. Lisandro Moura. A produção do material audiovisual contou com o apoio do Ponto de Cultura Pampa Sem Fronteiras, do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas do IFSul Câmpus Bagé (NEABI), do projeto Inventar com a Diferença (UFF) e do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Produção em Antropologia da Imagem e do Som (LEPPAIS-UFPel).
Procissão de São Jorge/Ogum em Bagé, RS
O material audiovisual mostra a presença do candombe afro-uruguaio na cidade de Bagé, localizada na região da campanha, fronteira do Brasil com o Uruguai. O candombe é considerado a máxima expressão de resistência e liberdade da população negra do Uruguai, bem como uma das principais manifestações do carnaval no país e da música afro-latino-americana. É praticado no ambiente da rua por meio de “llamadas”, “desfiles” e “salidas” protagonizadas por “comparsas” carnavalescas. Trata-se de uma manifestação coletiva secular cuja sonoridade é marcada pela polirritmia sincopada dos tambores “piano”, “chico e “repique”, os quais são acompanhados por um corpo de baile em cortejo. A prática do candombe vem aos poucos se consolidando na cidade de Bagé por meio do projeto Tambor Sem Fronteiras, coordenado pelo Ponto de Cultura Pampa Sem Fronteiras (Bagé, RS). A partir desse projeto os integrantes do Ponto, aficionados pela cultura "candombera", deram início à formação de um grupo de candombe na cidade – a “Grillos Candomberos” – criado com o objetivo de valorizar, divulgar e consolidar a prática musical do candombe no lado brasileiro da fronteira. Desde meados de 2015, quando surgiu, o grupo vem passando por processos de formação musical que contam com o apoio de “comparsas” do Uruguai, especialmente das cidades de Melo, Rivera e Montevideo. A formação envolve estudos, organização de oficinas, desfiles/llamadas em Bagé e em cidades vizinhas do Uruguai e ensaios abertos na Sociedade Uruguaia, espaço cultural considerado o ponto de encontro dos uruguaios que residem na cidade e o berço do “candombe bageense”. Essa rede de relações com as “comparsas” do interior do Uruguai teve como característica principal o fortalecimento de uma política de integração cultural e de intercâmbio binacional, marcado por relações transfronteiriças e por cruzamentos de pessoas, comparsas e tambores entre os dois países. O vídeo mostra, portanto, o encontro entre os tamborileiros(as) e bailarinas de Bagé com os integrantes da “Comparsa Llave 13, da Ciudad de Melo, durante uma saída de tambores realizada em 2019, nas proximidades da Sociedade Uruguaia. O evento aconteceu durante a 2ª edição da Fiesta Latina e Baile de Candombe. As imagens enfatizam a relação entre ritmo e ambiente e a presença de forças sonoras afectantes que compõem a ambiência das “llamadas” e “salidas de tambores”. A experiência de intercâmbio com grupos candombeiros, brevemente tematizada no vídeo, foi analisada pesquisa de doutorado de Lisandro Moura, defendida em 2021 no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPel. O trabalho de campo buscou mapear diferentes habilidades técnicas, corporais e perceptivas praticadas com os tambores tradicionais do Uruguai, as quais configuram uma maneira própria de educação orientada pelos próprios tambores. O vídeo é uma realização do Ponto de Cultura Pampa Sem Fronteiras e da Sociedade Uruguaia, e contou com o apoio do Laboratório de Estudos, Pesquisa e Produção em Antropologia da Imagens e do Som (LEPPAIS-UFPel).
Esta exposição foi elaborada durante a disciplina Patrimônio Cultural do Bacharelado em Antropologia da Universidade Federal de Pelotas. A proposta da exposição é trazer reflexões sobre patrimônio, suas representações, conflitos que envolvem estes Bens e as relações de poder que eles representam.
A partir de imagens de monumentos e prédios considerados patrimônios da cidade de Pelotas, buscamos expressar diversas representações sobre estes Bens através de frases e palavras. Fizemos pixo virtual! Essas intervenções apresentam discussões sobre representatividade, narrativas excluídas e possibilidades de intervenções públicas, pensando na seletividade de grupos que, muitas vezes, não compõem aquilo que é definido pelas políticas de salvaguarda.
Entrecruzando ruínas e não ruínas, as construções de uma cidade. Atravessar estes espaços enquanto corpas trans e dissidentes, faz refletir sobre nossas próprias inscrições de lugares dignos de ocupar e os ambientes não habitáveis. Partindo de um olhar para as relações de poderes e de uma investigação pessoal, esta vídeo arte apresenta fragmentos visuais coletados em São Paulo durante a pandemia, acompanhado de uma sonoridade experimental e autoral. Sendo assim, uma poética de ocupar mesmo que de passagem, a fim de observar e refletir sobre espaços inscritos para uma forma consolidada de sujeitos e que revelam pessoas historicamente marginalizadas. Nesta moldura cotidiana, por entre espacialidades esquecidas da grande cidade, aponto para algumas áreas de vigilâncias e de controles que revela o motivo de trazer este discurso, com a narração da multiartiste Sá Biá (Ruidosa Alma/RS).
Tambor sem fronteiras: o candombe uruguaio em Bagé, RS
Patrimônio e Pixo em EAD: A voz da cidade na pandemia
Ruínas
A obra surgiu uma disciplina de desenho, onde fiz uma colagem com varias referências de artistas lésbicas e assuntos feministas. Ficou como uma pagina de jornal, e desenhei com nanquim várias xoxotas e úteros em cima da colagem, que trouxe um ar de pichação e saiu do formalismo da pagina de jornal.
Referências lésbicas
A pampa pluriversa (Rieth; Barreto; Bittencourt, 2021) é conformada por diferentes modos de vida e ambientes: os campos lisos, horizontais, os campos dobrados, de pedra, e os banhados, de várzea. Em uma aprendizagem atencional (Ingold, 2015) observamos as relações entre naturezas e culturas como patrimônios do bioma pampa, a partir de seus campos banhados enquanto ambientes que compõem a cidade de Pelotas, localizada na planície costeira do Rio Grande do Sul. O termo “banhado”, que vem do espanhol “bañado”, refere-se às áreas temporária ou permanentemente alagadiças, classificadas como áreas úmidas. São zonas de transição, bordas que evidenciam o caráter dinâmico, os fluxos terrestre-aquático: “Deste modo, como borda, nem tudo se torna terra, nem tudo se torna água. Nem por isso a terra não será afetada pela existência da água e vice-versa.” (Flores:2018). Ocupar as bordas, conforme Luiza Flores, é habitar zonas de transição, territórios existenciais, implicados nas relações entre humanos, animais e plantas as quais constituem modos de existência adaptados ao regime das águas permanentes, temporárias, estagnadas, correntes, doces , salobras ou salgadas. (Braga:2016). Ao emaranhar-se com a cidade, os banhados são esponjas que absorvem as águas nos períodos de excesso de chuva. A relação entre o desenho e a fotografia com a etnografia tratam de evidenciar a particularidade de naturezas e culturas no ambiente de várzea na cidade. Narram a coexistência entre bichos, plantas e humanos, habitantes da cidade-banhado.
Referências Bibliográficas:
BRAGA, Marcelo G. Caracterização e Delineamento de Banhados: Estudo de caso no banhado do Taim. PPG em Manejo e Conservação do Solo e da Água/ UFPEL, jun.2018
FLORES, Luiza Dias. Ocupar: composições e resistências quilombolas. UFRJ/ Museu Nacional, out.2018.
INGOLD, Tim. O dédalo e o labirinto: caminhar, imaginar e educar a atenção.Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 21, n. 44, p. 21-36, jul./dez. 2015.
RIETH, F. ; LIMA, D. V. ; BARRETO, V. ; BITTENCOURT, H. INRC da Lida Campeira na Região de Bagé. (Blog). 2021. Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/lidacampeira/. Acesso em: 31 Jul 2021
Os Banhados na Pampa Meridional
Autoria: Lisandro Lucas de Lima Moura
Autoria: Lisandro Lucas de Lima Moura
Autoria: Leopoldine Radtke Bergmann
Coordenação de curadoria: Louise Prado Alfonso e Leopoldine Radtke Bergmann
Coordenação criativa: Leopoldine Radtke Bergmann Curadoria: Juliana Martins, Marco Lucas Anderson De Carvalho, Paola da Silva Brum, Paulo Ricardo Luzzardi Wieth, Renata Brasil Barros Lopes, Rodrigo Borges Dias, Ronney Bruno da Silva Corrêa, Rudinei Telier de Freitas
Autoria: Amora Julia Cunha Bueno (Amora Ju) e Sá Pretto (Samuel Pretto)
Autoria: Katiane Ferreira
Autoria: Mateus Fernandes da Silva, Flávia Rieth e Daniel Vaz Lima
A arquitetura residencial pode reproduzir sistemas de controle e separação dos indivíduos. A proposta de ambientes para todos, para alguns e para algumas distingue e hierarquiza as pessoas no espaço. Essas relações podem ser observadas nas habitações chamadas de Villas e Casas de Catálogo de Pelotas-RS, edificadas no início do século XX. Entretanto, ao perguntarmos a quem habita essas residências, como era (é) viver ali, quais eram (são) seus espaços mais usados e quais as suas transformações ao longo do tempo, os relatos surpreendem. Indo na contramão do que propõem os projetos das residências, seus moradores e moradoras se apropriam e transgridem frequentemente seus programas de necessidade. Nesse sentido, as mulheres aparecem como protagonistas dessas mudanças cotidianas, que podem ir desde a mudança de mobiliário, a pintura de alguns cômodos e até mesmo a proposta de construção de novos espaços residenciais. Essa tirinha foi elaborada na disciplina “Tópicos Especiais em Antropologia – Debates sobre Cultura e Patrimônio e relações de alteridade na contemporaneidade” realizada em 2020 e integra a dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da autora desse trabalho, intitulada “A Arquitetura Feminina: O cotidiano e os ambientes residenciais nas Villas e Casas de Catálogo em Pelotas-RS”.
Arquitetas do Lar – uso e apropriação dos espaços residenciais
única
esse vídeo é um chamado, uma convocatória pública, internética e poética, um chamado pra tatear as fissuras, atentar aos muros da cidade, as poesias que insistem em nascer e brotar de dentro das ferrugens. é um convite ao pedalar das pernas e o apertar dos compassos, um grito de resistência de quem um dia quer apenas existir.
mardina, agosto de 2021.
Autoria: Franciele Fraga Pereira e Louise Prado Alfonso
Autoria: Isabella Alves Guimarães
Autoria: Pedro de Moura Alves
Meu nome é Pedro de Moura Alves, curso Licenciatura em Geografia e a minha proposta são colagens digitais expressando sobre pessoas LGBTQIA+, corpos estes que resistem desde sempre, sendo assim busco expressar esse ponto com a utilização de recortes, imagens de diferentes períodos. A colagem consiste na utilização de recortes, fragmentos, e a sua sobreposição para composição de uma imagem. Uma das colagens representa uma homenagem a Brenda Lee e Juliana Martinelli que foram representações, ativistas no cenário LGBTQIA+ pelotense.
Corpos que re-existem
As artes de fazer
Michel de Certeau, na obra Invenção do cotidiano: Artes de fazer (V. I, 2014), considera as práticas como “maneiras de fazer” o cotidiano, carregadas de potencial criativo e capazes de produzir histórias, construir relações, transmitir saberes, por meio de tecnologias do agir. Certeau mostra, ainda, que nas práticas culturais contemporâneas mais ordinárias, como no cozinhar, no coser, no fazer um vaso, residem também formas de resistir taticamente às imposições hegemônicas.