CIDADES EM TRANSE:
Patrimônios, Conflitos e Contranarrativas urbanas
Entenda a arte do evento...
PELOTAS
Quem nunca ouviu falar que Pelotas é a Terra do Doce? Ou das enormes charqueadas que existiram por aqui? E dos grandes Casarões em estilo eclético do Centro Histórico? Ou até mesmo que é “cidade de viado”?
A cidade de Pelotas é conhecida nacional e internacionalmente por vários motivos, ganhando diferentes “apelidos”. Mas a história contada por aí é, por vezes, excludente e elitista, invisibilizando as mais diversas formas de conhecimento, de fazer cidade, de selecionar Bens Culturais. Por isso, a arte da identidade visual deste evento é formada por alguns patrimônios que são relevantes por motivos que nem sempre são lembrados.
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O Mercado Público Central é símbolo de grande importância para as Religiões de Matrizes Africanas, pois é local onde está assentado o Orixá Bará - portador da chave de tudo, podendo trancar e destrancar caminhos -, onde ocorrem trocas, circula o Axé, é o primeiro lugar onde filhos/as/es de santo realizam seus passeios.
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A comunidade do Passo dos Negros, à beira do Canal São Gonçalo, está representada pelo Engenho, pela figueira e a Ponte dos Dois Arcos. O Passo é uma localidade que começou a ser habitada há muitos e muitos anos atrás, quando abrigava o primeiro porto da cidade. Local por onde chegavam embarcações com pessoas escravizadas e por onde atravessava o gado a caminho das Charqueadas. A Ponte dos Dois Arcos, construída por mão de obra escravizada, até hoje está lá fazendo parte do caminho de moradores/as/us. As Figueiras Centenárias dão sombra para quem passa e para quem senta para um mate. Uma delas é onde habita a Noiva de Branco, não queira passar por lá à noite!
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Na região central da cidade, no conhecido Centro Histórico, encontramos a Fonte das Nereidas, na praça Coronel Pedro Osório, onde ficava o antigo pelourinho. No passado, a fonte serviu como abastecimento de água na região. No presente, as “Nereidas” são ponto de batismo do “nome de guerra” de travestis e trabalhadoras sexuais.
Já o Engenho do Coronel Pedro Osório, na época do ciclo do arroz, foi um dos maiores engenhos de arroz da América Latina. E até hoje se ouve falar que o Negrinho do Engenho vive ali!
Assim, as narrativas que se contam sobre a cidade são múltiplas e a seleção do que é patrimônio deve representar essa diversidade. Nosso intuito com a criação da arte foi mostrar um pouco de alguns desses patrimônios, composto de cores, narrativas, não-humanos, gentes que movimentam a cidade cotidianamente se deslocando a pé, de ônibus, de carroça, de carro, de uber, de bicicleta. Que ocupam e usam a cidade para se divertir, para trabalhar, para pôr em prática suas religiosidades. São muitas pessoas que têm suas crenças sobre os patrimônios da cidade, mas que também têm outros patrimônios, que são tão importantes quanto aqueles que aparecem nas narrativas oficiais da cidade.
Neste evento vamos te mostrar que Pelotas é feita cotidianamente por várias narrativas, histórias de pessoas e grupos, e que patrimônio é feito por gente!